
Romance é sempre (sem maldades, por favor) uma coisa dentro da outra. O teatro dentro do cinema, a literatura dentro do teatro, o teatro dentro da televisão, a literatura dentro da televisão, a literatura dentro do cinema, a televisão dentro do cinema, o cinema dentro da televisão (e tudo isso vida adentro). O amor lido, o amor sentido, o amor vivido, o amor atuado, o amor fingido. O ator na vida que vive um ator que finge ser um não-ator que atua. História dentro da estória, camada sobre camada, um corpo sobre o outro, uma mídia sobre a outra. E nós, e todos os nossos outros nomes, todas as nossas outras emprestadas vidas (Pedro, Tristão, Julieta, Cyrano, Ana, Isolda, Romeu, Roxane), lá – inteiros.
Romance é filme inteiro, que nos supre redondo: inteligência e sensação. Tenho a tendência de me apaixonar por obras que eu possa, literalmente, saborear. Aquelas saliváveis, mascáveis, que demoram e derretem na boca à Guimarães Rosa ou Machado. Pois eu saí da sessão de Romance com gosto de petit gâteau na boca – uma plenitude de recheio doce, cremoso e quente. Aliás, minha história de amor com os roteiros de Jorge Furtado vem de tempos imemoriais: eu-menina, na escola, assistindo a Ilha das Flores. Desde então, estivemos sempre juntos. Já que o terceiro vértice sempre foram as regionalices fofíssimas de Guel Arraes, Romance só podia acabar em happy-end. Amor recíproco (porque o artista só pode amar a quem brinda com filmes assim) e feliz. Juntos, Jorge e Guel transformam midasmente qualquer matéria-prima em canaã onde corre leite e mel. Romance, tanto ou quanto (ou mais que) os outros rebentos da dupla, é filme úmido, farto e fértil como o Cântico dos cânticos. E cíclico, sempre cíclico – marca registrada de Jorge, da vida e das máquinas bem azeitadas. Tudo clockworking, sem uma peça ou fala fora de tempo e de lugar. Preciso e generoso.
Como de costume, Guel trabalha com poucos e excelentes. Wagner Moura é um dos raros que geram mocinhos tão soberbos quanto vilões. Letícia Sabatella brilha com seus olhos de gueixa-kabuki-máscara, olhos de taça de vinho prestes a transbordar. Vladimir Brichta, cada vez melhor, se desdobra como fingidor que finge tão completamente. Andréa está, entre Marilda e Radical Chic, totalmente Beltrão. José Wilker – lacônico – e Marco Nanini – exasperado – abocanham cada uma de suas poucas cenas. Tudo e todos descendo skolmente; tudo era uma vez. É filme que se quisera mais infinito do que o enquanto-dura, filme que (es)corre e não se sente. Enquanto dura, porém, nós e todos os nossos outros nós, as nossas outras emprestadas vidas (Guel, Wagner, Letícia, Jorge, Vladimir, Andréa), somos felizes para sempre.
34 comentários:
Nossa, depois de toda essa descrição, fiquei muito tentada a ver esse filme, concordo com o que vc fala sobre o Wagner Moura e pra mim só por ele já valia a pena o filme... que bacana o que você fala da literatura tb... sim literatura e suas irmãs, artes, teatro... amo muito tudo isso
Só pela Letícia "Romance" vale a pena, intensidade e arte pura!
Belíssimo blog. Serei leitor assíduo.
erro fatal: ''História dentro da estória''
minha nossa....
verdade....belos atores que são tão bons quanto uma skol mesmoo rsrsrs
ja tive a oportunidade de ver uma peça de josé wilker mas isso ja faz uns 4 anos....
belo blog amigooo
abraçosss
Já havia programada para assistir ao "Romance".
será que vale a pena, ou é aquela velha lenga-lenga, água com açúcar de sempre? Creio que não, haja vista os atores em questão =)
http://comidaescrita.blogspot.com
(Saborei sem moderação!)
Fiquei sabendo que a cena de sexo é - de certa forma - forte. Mas ao mesmo tempo é a mais pura demonstração, e mais bela cena de amor.
Preciso conferir.
http://putoanonimo.blogspot.com
apesar de eu nao gostar muito de filmes, livros, teatros, etc de romance o texto tá ótimo e o blog tambem
parabens
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http://www.opsdagua.blogspot.com/
Amor... romance... agente só sabe descrever na hora que sent,e eu acredito =D
http://alacarte-domeujeito.blogspot.com/
Ops! to louca pra ver esse filme admiro muito o trabalho do Wagner Moura
Assisti Romance recentemente pensando numa coisa que o Dan stulbach tinha me falado, que era essa coisa do como dois em Dois, lembrando a letra de Caetano, assim como esta foi a mesma sensaçao q ele teve ao assistir Vicky Cristina Barcelona. O amor simples, como dois e dois sao cinco.
em menos de 10 minutos ja eh o segundo blog q fala desse filme!
tenho q ver!!
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www.moolegal.wordpress.com
Eu to super duper a fim de ver esse filme! :D:D
Tenho que ver isso!
Nossa!
Parece tentador. Preciso ver Romance.
:*
ótimo texto
Nossa, depois dessa narrativa, fica impossivel não brotar a vontade de assistir ao filme. Você escreve muito bem, parabéns!
Já tinha ouvido várias pessoas me falando desse filme. Intenso. Profundo, poético.
Não posso perder!!
Beijoo
Paz e Luz no seu coração.
www.isamangelli.blogspot.com
Gostei da crítica, parabéns.
Confesso que aumentou meu interesse pelo filme e isso é um mérito de quem escreve.
abs
Pôxa, bela descritiva. Fiquei curioso e ansioso para a primeira oportunidade de assistir ao filme.
abraçoss
pelo pouco q eu vi, apesar dos atores... não gostei do filme.
romence eh um boquete bem feito
Amor nascisista, platônico, solitário... Todas as formas são verdadeiras....
Basta saber valorizar....
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Visite: http://opinenoblog.blogspot.com
Uau!
Fiquei atordoada com tudo dentro de tudo assim!!
Na boa...Prefiro o Romance na literatura, o restante fica quase gliche.E o Wagner Moura é um ator incrivel, tão novo e tão talentoso.
Abraços
Vou procurar o filme sim, me deu vontade agora!
bonita imagem
Olá, muito boa essa sua Visão! bacana mesma, o blog já sempre com conteúdo interessante!
Parabéns!!!
http://visaocontraria.blogspot.com/
legal
mto bom o texto
Adorei o filme, adorei o comentário e adoro vc.
"Romance" é um daqueles filmes que eu gostaria de ter escrito. Tenho uma inveja boa do Jorge Furtado, o roteirista. O cara tem um talento para escrever redondo, redondo. Em geral, os textos dele não têm arestas, são cheios de rimas internas e pílulas de genialidade. Costumo ter uma inveja boa também da minha Fernanda – a escrita dela não é igualmente redondinha?
não gosto do genero, mas ta legal seus textos!
http://computaki.blogspot.com/
tenho q ir assistir :D
Ah.... agora eu quero e por quero ver esse filme de qualquer jeito ..
deve ser tudo de bom ... rs
Abç.
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http://www.analucianicolau.adv.br
Escreves muito bem!
Para mim quando alguém escreve bem é quando eu sinto que estou ouvindo a pessoa falar... e só percebo que "li, não ouvi" quando acordo do transe e termino de ler o texto!
Parabéns pelo blog!
visite o meu mais vezes! Será uma honra tê-lo como leitor assíduo!
Cara ce me deixou com vontade de ver esse filme,confesso que tinha ficado com um pe atras em relãção a ele,fiquei pensando comigo um filme de romance que se chama romance é muita falta de originalidade,e eu nao curto muito a sabatella,mas enfim axo que vou dar uma chance a esse romance,tem o jorge furtado ( nem sabia ) vou ver sim.Brigado pela dica.Em breve eu posto uma critica do que axei do filme la no meu blog.
Pois é, tô maluca pra ir ver o filme, como vou ao cinema uma vez por semana (sempre às 4as., obviamente rs), sempre acaba entrando outro filme na frente dele. Mas depois dessa resenha emocionante, fiquei maluca.
Parabéns pelo texto, viu?
Bjs!
Foi o primeiro contato que tive com este filme, agora.
Não tinha ouvido falar mas sempre uma história romântica cai bem.
O Wagener Moura tá sendo um dos melhores atores atuais.
Sempre sai bem nos papéis.
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