
Cazuza cantou muitas vezes que o tempo não pára. E é verdade. Querendo ou não, os dados continuam rolando. A vida correndo, e a gente tentando alcançá-la. A maioria não consegue chegar perto dela, não vê os segundos que os minutos guardam, os minutos que as horas guardam, as horas que os dias guardam. Mas esse não é o caso de Ben Willis, o jovem estudante de artes que protagoniza o pequeno-grande-filme Cashback, escondido em uma ou duas salas de exibição aqui no Rio.
O rapaz, sensível até os olhos, passa a sofrer de insônia após terminar com sua namorada, Suzy. Vira uma espécie de bela adormecida às avessas, condenado à vigília eterna até que um beijo de amor verdadeiro o faça dormir novamente. Como permanece acordado dia e noite, decide arrumar um emprego num supermercado 24 horas e aproveitar o tempo extra para ganhar um dinheiro extra. Vai um extra, vem outro – cashback.
As noites insones passam então a ser preenchidas com a limpeza dos corredores da loja, corridas de patinete entre as gôndolas, broncas do gerente ultracompetitivo, brincadeiras bobas com os colegas de trabalho – e a doce menina do caixa, Sharon. Tudo isso sob o olhar desenhista de Ben, que enxerga as banalidades do cotidiano demorada e detalhadamente, a ponto de fazer o tempo parar. Magicamente.
Seus olhos interrompem a correria e despem tudo que está ao redor, não só as belas clientes do supermercado, mas também – e principalmente – as várias camadas do (seu) mundo. Através de sua "câmera interna", conseguimos filmar alguns flashes da vida dele, como o segundo em que se apaixona definitivamente (por Sharon). Acompanhamos de perto e até sentimos seu processo de apaixonamento, e por causa da proximidade e da não-pressa de seu olhar, sentimos quase tudo que ele sente.
Alternativamente colorido, estranhamente humano, apesar de – ou justamente por – seus truques narrativos, como o tempo que pára, Cashback é um filme para quem entra no cinema e de fato esquece o mundo lá fora. Para quem sonha-acordado que o beijo da "princesa" nos adormeça da realidade em fast motion e nos deixe "encantados'' – pelo menos até a luz acender.
36 comentários:
Belíssima crítica!! "Cashback" é realmente uma pérola -- pena que já quase defenestrada do circuito. Trata-se de uma história de amor não apenas no mais tradicional dos enredos (garoto-perde-garota-conhece-outra), mas principalmente na forma deliciosa e tempo-psicológica de arrumá-lo. É, em especial, uma história de amor ao mundo como ele se apresenta, em todas as suas pequenices que -- como o filme -- ficam perdidas numa sala qualquer de exibição, para poucos. Não há egotrips complicadas, não há james-joycices incompreensíveis nesse olhar alternativo. É apenas um olhar lento, como deve ser o olhar amoroso em todas as suas vertentes. O olhar da câmera e o olhar de Ben são generosos, famintos, como diz o título do texto. Mas famintos de degustar e não de engolir. De certa forma, o olhar de Ben é também o de todo artista: aqueles olhos cheios de preliminares, desapressados, detalhistas, carinhosos com os detalhes, desligados dos ponteiros, sem nenhuma ânsia de ir "direto ao assunto". O olhar de Ben é o de todos os pintores, de todos os desenhistas, de todos os músicos, de todos os escultores, de todos os apaixonados que sabem fazer do apaixonamento, do amamento, uma arte. E, mais amplamente, de todos os que sabem fazer uma arte do próprio ato de viver. Todos os artistas, em suas especialidades, em seus respectivos amores, param o tempo. Enquanto os demais -- com câmeras ágeis demais, com roteiros rápidos demais -- normalmente se preocupam com o quê, os artistas se concentram no como. Enquanto se vive focado na vida-futura-que-nunca-vem, os artistas -- como Drummond -- querem o "tempo presente, os homens presentes, a vida presente". A sombra, a luz, a árvore, o uniforme do supermercado presente. "Cashback" é pra quem, conforme já se disse, vive como se fosse de propósito.
Nossa, que demais. Ando tao pensativo noutras coisas que acabo por esquecer quao originais novas ideias podem ser. Obrigado por me lembrar e me arrancar do meu mundo.
Abrcs
Que isso rapá!
tem o que comentar?
O texto esta prefeito, muito bom mesmo ;)
HUmmmmm filme triste....depressivo
putz deu até vontade de assistir! Nunca tinha ouvido falar!
Vou procurar mais sobre o filme, deve ser maneiro!
abraços
passa lá e se gostar assine o feed
http://som10.blogspot.com/
Legal em ... gostei da foto :D
Eu não sei se aqui em São Paulo esse filme está em cartaz. Se estiver irei assistir.
Esse filme lembra um que passava (não sei se ainda passa), que a história se passava dentro de um supermercado, na qual um casal fica preso, depois que o supermercado é fechado.
É uma comédia romântica bem interessante.
http://hdebarbamalfeita.blogspot.com/
fernanda amei sua narrativa do filme, querooo verrrrrr!!
Estou em uma busca aqui por SP, me parece que ele este na Mostra de Cinema aqui, não o acho em nenhum outro lugar... Mas a busca continuará!!
Parabéns pelo blog, bem clean...
Abraço forte
www.grupomaos.com
Oh. Agora fiquei com vontade de ver o filme. Vou ver se encontro pra baixar. ótimo blog, a propósito. :D
legal, odiei a foto ^^ hsuheuhs
ja viu ele???????????
Xii, gostei do filme, mas se eu quiser assistir esse filme vou ter que ir ver em outra cidade "/, aqui nunca tem nada...
Bom blog, boa crítica
Eu aqui denovo \o/
Dps dessa crítica cheguei a conclusão que o filme vale mesmo a pena ser visto... Deixou-me cheia de curiosidade. Valeu a dica!
Bjos
Que delícia deve ser esse filme! Adoro historinhas de amor atrapalhadas, tipo este.
Vou conferir, viu?
Belo trabalho!
Ain... Me deu uma vontade de assistir a esse filme!!!
Vc conhece Roll the bones do Rush?
Boa pedida!
Who controls the dice?
http://superslainte.blogspot.com/
hehe ótimo texto adorei as reflexões vou procurar esse filme fiquei curioso.
Ah confesso que como a maioria dos que comentaram , fiquei com vontade de assisrir. Adorei o texto e o blog ;)
beeeijos.
Cashback... Uma pena que nunca ouvi falar rs
Nossa, muito boa sua reflexão e crítica, parabéns!
beijos
Hum.. Esse filme me chamou bastante atenção, um amigo tinha até falado, mas nem dei atenção..
Após ler aqui, fikei curioso!
nossa adorei vou procurar saber mais sobre o filme......ótima critica...
Vou procurar esse filme, adoro ver filmes e nao sabia da existencia desse
Shooooooow
Pena que aqui em Sampa não achei nenhum sala, mas já tinha ouvido falar muito bem do filme!
E agora fiquei com vontade de assistir =\
Beijão passa no meu blog, leia e comenta
http://caramelcamel.blogspot.com/
Bjbjbj
Adorei a crítica, em ralação a frase do Cazuza, o engraçado é que ela foi dita há muito tempo e ainda vale pros dias de hoje.
Muito bom o texto.
http://papodomarcelo.blogspot.com/
esse filme é novo? eu jah vi um meio antiguinho que a historia é parecida, esse dever ser muito legal
abraços
Olá!
Rapaz, ótima descrição do filme. Não conhecia esse título. Como vc disse, "escondido em uma das salas..." - filmes fora do "mercado" são escondidos por essas salas..uma pena para nossos olhos e nossa cultura...
Abs
É muito ruim quando os filmes realmente bons não têm muita divulgação e ficam escondidos...
O último filme que me fez esquecer do mundo lá fora quando assisti foi o Ensaio Sobre A Cegueira...
Muito bom...
Estou atrás do livro agora
(E não sou desses que só se interessa pela história depois de ver o filme, esse foi um caso isolado ^^)
uhsauhsuhasuhauhsauhs
Excelente crítica
abraços
Me surpreendi, ótima análise do filme que, por sinal, ainda não vi.
Mas vou procurar ver, fiquei curioso.
Até mais e parabéns pelo blog!
Otima critica!
Você conseguiu me fazer a ter vontade de assistir esse filme!
www.centralldamusica.blogspot.com
muito bacana a forma como você descreveu o filme...pena q não tem nem sinal do filme aqui no Maranhão...vou ter q achar na internet...valeu a dica!
--
www.moolegal.wordpress.com
Encantadora a narrativa que você fez. Fiquei, realmente, curioso...rs
Vlw!
abraçoss
muito bem escrito!
bjos
Fala fabio blz !!!! Vim agradecer a visita lah no Guri obrigado e volte sempre parceiro ate mais
Se Fernanda e Fábio recomendam, obviamente o filme é imperdível. A crítica de vocês é maravilhosa, não pela crítica em si, mas pelo modo como a escrevem.
O blog está lindo,parabéns.
Beijos, saudades!
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