7 de fev. de 2010

Prazer em conhecer-me

Como o Fábio já contou no post anterior, acabamos de voltar de uma viagenzita a Cabo Frio, com direito a uma esticadinha em Búzios. E quem leu o post deve ter ficado com a impressão de que sempre fui exímia (ou, pelo menos, apaixonada) mergulhadora, admiradora convicta do mar e frequentadora assídua do Pepê ou Posto 9. Nada mais absurdo. Quem me conhece mais de perto sabe que costumo fugir de praia como o Cadu foge da Anamara, não levo o menor jeito pra camarão empanado e nunca tive, com o mar, intimidade que fosse muito além do “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. Sempre jurei de pés juntos que preferiria, até a morte, uma viagem de serra-mato-montanha a uma de sol-areia-oceano. Sabe aquele avatarzinho que você cria para si mesmo em alguns sites (e dentro da cabeça)? O meu jamais surgiria numa paisagem que se parecesse com o Havaí ou Fernando de Noronha. Provavelmente ele apareceria, dando adeusinhos sorridentes, diante da Torre Eiffel, do Castelo da Cinderela, de casinhas coloniais ou de uma cerejeira florida. Praia nunca foi minha praia; nunca me representou ou definiu.
E aí viajei. No primeiro dia, uma caminhada à beira-mar, água batendo na perna e a estranha sensação de pertencimento àquela paisagem alienígena, deliciosamente salgada e gelada. No segundo, um passeio de escuna e a oportunidade de cair no meio do mar de Búzios. O Fábio mergulhou e eu – para não perder a coragem e a chance – o segui sem pensar muito. Nos dias seguintes, em cada praia visitada, era eu quem mais se demorava entre as ondas; uma ânsia esquisita de sentir os lábios rachando de sal e a água abraçando o corpo inteiro, geladamente. Fiz as pazes com o mar – que aparentemente não sabia que estávamos brigados, tal a simpática alegria com que me recepcionou. Talvez ele tivesse razão. Não foi com ele que eu brigara, e sim com a superpopulação, o desassossego, a areia emporcalhada e o sol saariano do Rio de Janeiro. Nada que a praia vaziamente matinal (no horário certo, na temporada certa), a segurança e o vento fresquinho de Cabo Frio não pudessem resolver.
Uma viagem ou situação de exceção não muda a personalidade de ninguém; faz, pelo contrário, uma depuração ocasional. Um efeito salina: longe das ondas costumeiras, das influências de sempre, o que era menos sólido evapora e o que sobra é você. Você com mais ou menos refinamento, mais ou menos medos, mais ou menos frescuras do que achava que tinha. Às vezes necessidades diferentes, reações distintas. Claro: uma situação de exceção também é uma onda, também é uma influência. Nossa autenticidade não é, necessariamente, exclusiva nem absoluta nesses períodos. Mas é nesses períodos que levamos menos bagagem, física e emocional (o que é uma mala perto de uma casa inteira, do trabalho, das contas...?), ou temos menos tempo de acessá-la. Contamos mais com menos; somos o que nos fica de mais básico. Temos um espaço menor para carregar todas as autoinformações sobre as quais dormimos confortavelmente – e, por isso, nos vemos obrigados a ser mais quem tendemos a ser e menos quem nos acostumamos a ser. Depois voltamos para casa e tentamos não enterrar o tesouro (ou não ignorar o problema) descoberto.
Voltei para casa com muita vontade de não enterrar o tesouro, de não deixar de andar à beira-mar, de não perder o gosto de sal nos lábios, de não ficar longe da firmeza que a água exige do corpo (mesmo que fosse numa hidroginástica). Com a vida que temos, é difícil. Porém, pela primeira vez desde que comprei o computador – há anos! –, mudei o papel de parede: tirei o fundo-padrão do Windows e deixei a foto do mar (sem rostos, sem areia: só do mar) de Búzios. Ele continua não me definindo – assim como a Torre Eiffel, o Castelo da Cinderela, as casinhas coloniais e a cerejeira florida, sozinhos, não me definem. Mas talvez não seja má ideia nos definirmos pela urgência de lembrar que sempre devemos deixar um porta-retrato preparado para um novo amigo.

12 comentários:

Gleise Erika Cavalli disse...

Muito boa a praia.
Nunca fui, mas só de ver a foto, dá 'água na boca' ;)

Gutt e Ariane disse...

Muita sacan ada sua parte elaborar um post desse tipo... só pra deixar a gente com vontade!?! Poxa vida...rsrs
E ainda tão descritivo... assim não dá!! Quero fériiiiiiaaaaaassssss!!!!

karinacasola disse...

Praias, Praias, amo todas.. mas acho que prefiro mais uma cachoeira.. blog de muito bom gosto ;)

Anônimo disse...

Viajar é MARA sempre! Mas viajar pra uma praia é ainda melhor, adooooooooro!!! Não conheço essas mas um dia eu vou... Sonho em conhecer Búzios e a região dos lagos.
ABRAÇO! ;)

fabis disse...

ta na minha lista de lugares para ir quando eu tirar minha ferias.
parabens pelo blog




http://afffveioo.blogspot.com/

Samilla Fonseca disse...

Adorei a sua última frase. Sempre é bom conhecer ou reconhecer coisas novas. =D

carol m. disse...

O mar é perfeito mesmo, não curto muito praia, ainda mais lotada, não sou fã de sool, mas o mar é tão lindo e maravilhoso que não dá pra ficar longe se você tem chance, que bom que você gostou e curtiu bastante a viagem :) gostei do seu blog!

Luis Sapir disse...

Nossa que paraíso.

Saudade de Buzios..Cabo frio eu nunca fui.

muito lindo a foto

luciana disse...

adorei achar alguem que prefere foto da torre eiffel a praia, mas nao podemos negar que ha praias lindas que nos encantamos

Theus disse...

amei o post, eu também nunca fui muito fã de praia, mas a sensação que temos quando entramos no mar é algo completamente inusitado.

Lembro dos dias em que acampava no carnaval numa praia com minha fmailia, bons tempos que marcaram mina infancia.

Lew disse...

Só de ver as fotos que eu pesquisei... hummm

Pobre esponja disse...

Fui em cabo frio (sou Paulistano) e, fala sério, que ventania !!
Gostei daquela miríades de pássaros mergulhando para caçar os peixes...

abç
Pobre Esponja