Já faz quase uma década que espero esse finzito de setembro, início de outubro com um gostinho de pipoca estalando na boca, expectativa feliz nos olhos, ansiedade curiosa: época de Festival do Rio, um dos maiores bufês cinematográficos do mundo. Tremendo self-service pra cinéfilo guloso algum botar defeito, com mais de 300 títulos na bandeja – uns fresquinhos, outros requentadinhos –, 60 nacionalidades diferentes, 2 mil e tantas sessões dando a maior sopa durante 15 dias. A glória. E olha que nem sou dos frequentadores mais desesperados, daqueles que pedem divórcio, demissão e empréstimo ao FMI para passar o rodo em todas as sessões diárias e terminar o mês na Juliano Moreira, balbuciando diálogos desconexos em norueguês e iídiche. Sou light: se conseguir ao todo uns cinco, seis filmes já me dou por medalhista olímpica. E mesmo nesse esquema tão humilde, lá estou eu – ano após ano – examinando a tabela da programação com olhos de estrategista, cruzando horários e escarafunchando sinopses, até garantir um ingressinho para chamar de meu.
Claro que nem tudo são flores. Como diria Bruno Mazzeo, Festival do Rio também pode ser a maior cilada. Numa das edições, por exemplo, a legenda eletrônica resolveu tirar férias no meio do filme e deixou o público na saudade (e na ignorância). Vira, mexe, interrompe a sessão dali, tenta consertar daqui, não teve jeito: nada de a bichinha sair da greve. Alguns espectadores desistiram, mas eu e Fábio, profissionais, encaramos o negócio até o fim. Encaramos porque era em inglês, óbvio (e, como típico espécime de Festival, não tinha assim tantas falas); se fosse obra de um Kurosawa da vida, ou de qualquer outro indivíduo não muito americano, danou-se. Mas também tem aqueles longas cuja legenda poderia evaporar no meio da ação e não faria a menor diferença: você iria apenas continuar, tranquilamente, não entendendo porcaria nenhuma. Coisa de três edições atrás, pegamos um filme israelense desse tipo. Não por ser israelense, é certo, mas por ser uma das maiores mixórdias possíveis em termos de enredo – que, ainda por cima, era o oposto do que a sinopse jurava ser. Estamos discutindo a relação com o filme até hoje. E não é preciso ir muito longe: no sábado passado, decidi investir animadamente numa história que prometia – A casa Nucingen. Aparentemente, um tradicional conto de mansão mal-assombrada. Mas assombrados ficamos nós – os pobres pagantes – diante de tamanha ruindade. Personagens incompreensíveis, roteiro capenga, diálogos esdrúxulos, fantasmas bisonhos e metade da plateia abandonando a sala, perplexa, no meio da sessão. Fiquei lá, impávido colosso, esperando surgir algum sentido (sou brasileira e não desisto nunca). Mas, se querem saber, ele ainda não chegou.
Apesar de todos os efeitos colaterais envolvidos, nunca deixa de ser uma delícia garimpar preciosidades no escuro, no chutômetro; felizmente, em sua maioria, as escolhas não são (completamente) furadas. Mais de uma vez, uma ou outra dessas pérolas acabou entrando no meu top ten anual. E mesmo quando o aproveitamento está longe dos 100%, vamos combinar: em que outra época do ano temos a honra de ver, reunidos, títulos como Porco cego quer voar, Matadores de vampiras lésbicas, Sexo, quiabo e manteiga com sal, Os famosos e os duendes da morte e Bom dia, meu nome é Sheila ou como trabalhar em telemarketing e ganhar um vale-coxinha? Em que outro momento histórico lemos sinopses que incluem, na mesma trama, personagens como Caubói, Índio e Cavalo, churrasqueira, tijolos, casa soterrada, professora de piano e bizarras criaturas marinhas? (pode acreditar: essa tosqueira existe e atende pelo nome de A town called Panic). Não tem pra ninguém: o Festival (para nossa sorte e saúde) é conjunção astral única, de relaxar e gozar em todas as possibilidades. Agora lá vou eu com minha tabela; te vejo na próxima sessão. Boa sorte e boas pipocas!
23 comentários:
Eu espero essa época pq é meu aniversário.
rs , gostei do blog . beem interessante e com conteúdo diferente ! beiijoo ;*
Puxa, deu até vontade de ir para esse festival!!!!!!!!Em minha cidade bem que poderia ter um assim, mas aqui, infelizmente, nm cinama tem! :(
Beijos
fico besta c a qualidade dos eventos cariocas, eles conseguem fazer 1 coisa bem feita, c convidados ilustres e tudo mais!
Já dei uma pesquisada sobre e realmente vai ser algo FODA!
Para quem curte filmes, opções não irá faltar, poderia acontecer um assim aqui em Sampa também.
Abraço.
Isso que eu chamos de gostar realmente de cinema.
Nada como um ótimo filme pra relaxar, divertir e fazer pensar também, né?
O cinema brasileiro tá despontando de forma incrível!!!!! Aliás, é bom valorizar o que é nosso!!!!!rsrsrs
Achei super interessante o seu blog!!!!! Muito inteligente!!!! PARABÉNS!!!!
Deixo o convite pra visitar o meu também, tá?
www.juliana-praonde.blogspot.com
Beijo grande pra você e até mais!!!!
vamos ver qual filmes se destaca...e boa sorte para nossos filmes....
"cinefilo guloso"
Adorei a expressão, me identifiquei.
Sorte sua que pode ir ao festival do rio!
Sorte no Blog!
http://identidade-cultural.blogspot.com/
parece ser legal mesmo
ainda mais pra mim que gosto de filmes
Esse festival parece ser muito interessante, o ruim , como você falou, é pegar esses filmes toscos, sem roteiro decente.
http://daniel.a.s.zip.net
Mto bom o post, curti ;D
http://tiomah.blogspot.com/
aqu em brasilia tem festival de cinema tambem ,mas eu nunca me interessei por ir.depois de ver sua empolgação eu vou ir a algum por aqui
Vcs do Rio eh que sao felizes heim! Mal acabou a Bienal, ja tem um Festival de Cine!!! Que inveja heim haha!!
Alias achei bacana terem transmitido os debates do Cafe Literario na Web, podiam fazer algo parecido no Festival nao? (claro que fica dificil ficar transmitindo o filme... mas pelo menos cerimonial e tals)!
300 títulos de 60 nacionalidades diferentes, isso eh prato cheio pra cinefilo, eu passaria o dia todo la haha!!
abracos
bom..uma pena eu não ser do Rio e não poder acompnhar o festival..
mas o festival de são paulo costuma contar com a minha presença. No último, inclusive, tive uma alegria e uma decepção: alegria por te rido assistir Romance, com Wagner Moura e Leticia Sabatella. O filme me surpreendeu. Não achei que fosse tão bom. Tristeza pois os ingressos para o Che acabaram em duas horas e eu não fui ver...enfim...boas sessoes para vc!
É necessário ter fé, não é mesmo ?
Eu acredito sempre no positivo, apesar desse ano não ter sido o melhor em termos de filmografia...
Abraços.
Legal :)
Abraço.
Ah!
Eu sempre quis ir nesse festival mas moro longe. Dizem que dá pra dar muita risada e também chorar da ruindade de alguns filmes. Ótimo post!
http://cerebro-musical.blogspot.com
Rio é noix
É de graça , não use drogas e faça muito sexo:
BLOG>>>> http://cariocax.blogspot.com/ e
twitter>>>> http://twitter.com/cariocaxblog
o festival de cinema de brasilia é pequeno,que nem falam dele no noticiario nacional
Ainda mais no rio, deve ser uma boa diversão.
Acho que sera legal.
Se não me engano, meu primeiro filme do Festival foi o chileno "Táxi", há alguns anos. Ali comecei a abrir meus olhos para estórias menos hollywoodianas. De lá pra cá, encarei até um filme finlandês, o involuntariamente cômico "O homem sem passado". Outro "inesquecível" vinha de Israel (esse de que a Fernanda falou). Mas há boas surpresas, como o espanhol "Sêmen, uma história de amor", comédia romântica coloridamente estilosa que acabou figurando no meu top ten de final de ano. Este ano só assisti a um filminho, "Piquenique", uma produção meio francesa, meio romena sobre um casal que, a caminho de um piquenique, atropela uma prostituta. Felizmente, a estória tinha começo, meio e fim – o que já é ótimo quando escolhemos um filme apenas pela sinopse...
Postar um comentário