28 de jul. de 2009
Há um mundo bem melhor...
21 de jul. de 2009
Dreamgirls
Uma bolsa, uma blusinha, um kit do Boticário? Eu estava sem ideia de presente para minha mãe, que fez aniversário no último dia 7. Não queria repetir as lembranças de todos os anos. Foi aí que o sempre útil RJ TV entrou na história e me deu aquela mãozinha, apresentando um musical que acabava de estrear no Leblon, na Sala Fernanda Montenegro: O som da Motown. O espetáculo traz cinquenta dos maiores sucessos lançados pela famosa gravadora Motown nos anos 60, 70 e 80 e – coisa boa – não tem um dialogozinho sequer. Nada de falação atrapalhando a fluência de uma canção emendada na outra. "Apenas" cinco moçoilas de voz cheia e uma banda tocando ao vivo.
Após a exibição de um vídeo-resumo das três décadas – com Martin Luther King, John Lennon, Vietnã, black power, black is beautiful, paz, amor e outros bichos –, o show começa. As meninas sobem no palco com a suingadíssima "I heard it through the grapevine", imortalizada por Marvin Gaye. Atacam com "Papa was a rolling stone", "Theme from Mahogany", "Just my imagination", mas me emocionam mesmo com a singela "My girl", dos Temptations, quando foi irresistível olhar para a Fernanda com um sorriso nos olhos. What can make me feel this way?
A plateia no bolso, e o quinteto se transforma em trio para ressuscitar as Supremes, com direito ao figurino-e-cabelão típico das musas. Ooh baby love, my baby love... não é que elas mexem os ombrinhos com a mesma delicadeza das divas? e estendem os braços para nos alertar, cheias de um charminho (quase) ingênuo, stop! in the name of love, before you break my heart? Melhor que isso só quando as moças somam cinco outra vez para encarnar os Jackson Five. Simone, Thalita, Ellen, Alcione e Débora viram meninos e interpretam "I want you back" e "ABC" com a molecagem necessária nos pés e nos gogós.
Aí chegamos ao momento mais emocionante do espetáculo, que – por isso mesmo – merece um parágrafo só seu. O jovem Michael Jackson no telão, a corajosa Simone Centurione no palco e a clássica "Ben" na voz suave de ambos. Um dueto milimetricamente ensaiado, improvavelmente bem-sucedido, lindamente realizado, reconhecidamente aplaudido. O ingresso estava muito bem pago. A cortina podia fechar ali que sairíamos felizes. Mas tinha mais.
As sessentíssimas "Do you love me" e "Please, Mr. Postman", a discotequíssima "All night long", as figurinhas carimbadas de qualquer sessão-good-times-de-rádio-que-se-preze "Easy", "Three times a lady", "My cherrie amour", "For once in my life", "Endless love" e – para botar o público cantarolando na saída do teatro e mamãe (ainda mais) feliz da vida com o presente-surpresa – a imbatível "Ain't no mountain high enough", um poema em letra-e-música que faz a gente sacudir toda a poeira do mundo e dar a volta por cima, de preferência numa pista de dança. No wind, no rain or winter's cold can't stop me, baby!
15 de jul. de 2009
Festa de arromba
Eu tenho tanto pra lhes falar, mas só num post não sei dizer – como é e foi grande o nosso Roberto, outra vez em sua carreira de jubileu, mas pela primeira vez no palco dos maiores craques do planeta. Pela primeira vez! o maior do Brasil no maior do mundo. Coisa bonita, coisa gostosa de ver e sentir essa força estranha no ar: o Maraca se enchendo aos poucos com os nossos pais e mães e tias e primos e avós, com aqueles que começaram e terminaram namoros, fases, vidas ao som do Rei. Nós também ali, aguardando nas cadeirinhas brancas, binóculos e lanches comprados, ventinho insistente nos deixando apreensivos. Chuvisco. Capas de chuva prudentemente adquiridas. Muitas “olas” seguidas, afinadas, pra disfarçar a espera. Quase na hora, Eri Johnson convoca a plateia para cantar – uma, duas, três vezes – nossa óbvia declaração ao dono da festa: “Como é grande o meu amor por você”. Ele sabe, ele sabe. Mas não custa repetir, reforçar, desejar: vem, Roberto – pode vir quente que nós estamos fervendo!...
Como digna majestade que é, Roberto atende a seu povo e adentra o palco, charmosíssimo, na aparição azul de um calhambeque – bi-bi! Nunca o tradicional abre-alas “Emoções” refletiu tão bem o doce nervosismo do Rei. Vai dar tudo certo, Roberto, como dois e dois são cinco: canta suave as canções que você fez pra mim, pra todos nós. Ele canta. Amante à moda antiga, delicia-nos com os clássicos da fofura “Eu te amo, te amo, te amo” (“Eu também!”, responde a plateia em coro), “Além do horizonte”, “Amor perfeito”, “Detalhes” (momento banquinho-e-violão) e “Outra vez”. Mas uma carreira de cinquenta anos não é feita só dessa grande família de vozes que o acompanha. É preciso saber viver cada cantinho da vida em cada um dos outros cantinhos. Carinhosamente emocionado, o anfitrião volta às raízes com “Aquela casa simples” e homenageia pai (“Meu querido, meu velho, meu amigo”), mãe (“Lady Laura”), outra mãe (“Nossa Senhora” – com direito a cascata de luz) e Maria Rita (“Mulher pequena” – para minha total alegria de baixinha). Voz doce e serena, coisa delicada, coisa de coração grande.
Algumas curvas depois de “O calhambeque”, no meio da labuta de “Caminhoneiro”, o tempo para na contramão e a chuva desaba. As capas que ainda resistem na bolsa são exasperadamente vestidas. Público ensopado, encharcado, enxaguado e tudo que existir de adjetivo pingante no idioma. Por dez minutos ficamos apenas sentados à beira do show, debaixo do splish splash, aguardando o Rei voltar para o resgate. E acha que com isso estamos sofrendo? Se enganou, meu bem: tudo ainda muito certo como dois e dois são cinco, cinquenta anos de estrada, setenta mil vozes na plateia, um milhão de amigos no peito, talvez alguns bilhões no mundo. Roberto volta para nós, agora pra ficar; e, após a fossa de “Do fundo do meu coração”, canta côncavos e convexos numa enxurrada de músicas safadinhas (“Proposta”, “Seu corpo”, “Os seus botões”, “Café da manhã” e “Cavalgada”). Foi bom para nós? Foi, Roberto: não pare. Aos acordes de “Amigo”, já pressentimos que vai ter novidade. E tem: Erasmo Carlos interrompe a música para, do telão, declarar-se ao irmão camarada. Choradeira dupla. Ao Tremendão (já no palco) e ao Rei, junta-se a Ternurinha. Eles são terríveis! Depois das canções em conjunto, Roberto põe mesmo pra derreter num pout-pourri da Jovem Guarda. E, para nossa pré-saudade, abraça-nos com a macia “Como é grande o meu amor por você”, dá-nos a última lição em “É preciso saber viver” e faz sua prece agradecida em “Jesus Cristo”. Fogos, muitos fogos. Rosas, muitas rosas. Acabou – mas são coisas muito grandes pra esquecer. Um soluço e a vontade de ficar mais um instante. Ele é o bom, é o bom, é o bom – demais!...
8 de jul. de 2009
Invincible
Falar da "morte" de Michael Jackson é a mais pura bobagem. Pelo menos agora. Talvez a gente pudesse ter especulado sobre ela logo após o lançamento de Thriller, em 1982. Porque depois de realizar uma obra-prima é inevitável que o artista morra – e ao mesmo tempo, nada contraditoriamente, alcance a vida eterna, maior privilégio dos mitos, das lendas, dos super-heróis. Ao ressuscitar os mortos com aquela ópera pop, aquele balé do subúrbio, aquela batida perfeita, aquela escuridão sob holofotes, Michael garantiu seu lugar ao lado de nomes como Elvis Presley, que – dizem sabiamente – não morreu.
Michael já era ímpar quando estava ao lado de seus pares, no Jackson Five. Molecote ainda, mostrava ter o ABC e todas as outras letras do alfabeto musical no sangue. Sua estrela transbordava generosamente na voz, no gingado, nos olhos e ofuscava os irmãos, que acabaram desaparecendo com o tempo. Michael tinha de estar sozinho no palco, e sempre esteve, mesmo quando acompanhado de dançarinos e efeitos especiais fabulosos. Uma estrela suficientemente estrela para não precisar de constelação.
Talvez Michael também tenha estado sozinho na vida, muitíssimo menor que o palco, no caso dele. Era um garoto perdido, como aqueles que habitavam Neverland? Era Peter Pan, o menino que não suportava a ideia de crescer? Era o Capitão Gancho, a fugir desesperadamente de um crocodilo que fazia tique-taque por ter engolido um relógio? Era, quem sabe, o próprio crocodilo, que tinha engolido o tempo, mas não conseguia digeri-lo?
Pena eu não ter tido a chance de assistir a um show do Michael ao vivo, como o da Madonna, no Maracanã, e o do Elton John, na Apoteose. Teria sido outro daqueles instantes em que o tempo para, em que milagrosamente deixamos de envelhecer por umas duas horas, como se a Terra do Nunca de fato existisse. Mas não tem problema. O que realmente importa é que a vida (de Michael) continua – nas canções, nas coreografias, nos videoclipes, em seu jeito surpreendente de brilhar, de viver cada dia como se fosse uma imprevisível thriller night.
2 de jul. de 2009
Antes do pôr-do-sol
