
Hoje acordei com uma vontade inexplicável de listar meus medos: os eternos, os temporários, os sérios, os bobinhos, os que me fazem parar, os que me fazem seguir. Alguns são tão óbvios e me causam tamanho pavor – o medo da morte, por exemplo – que não merecem o espaço de uma cova. É melhor fingir que não existem; se, por acaso, eles insistirem e derem o fúnebre ar da desgraça, o jeito é não ter medo – de fugir. É o que faço. Corro pra bem longe.
Só não quero ficar longe de quem gosto. Nem pensar. A distância é outro medo eterno e sério. Daqueles que só fazem uma crônica mais cinzenta do que deveria. Minha ideia inicial era escrever sobre o medo da colorida comida japonesa (já superado com os devidos sushis e sashimis); da cabeleira selvagem do Caetano tropicalista (felizmente há muito substituída por fios grisalhos e comportados, bem menos assustadores); e do Baixo Astral, o ultravilão que por pouco não descoloriu o arco-íris de energia da Super Xuxa.
Também tenho medo de passar a vida inteira e não rabiscar uma obra-prima que seja; que seja da literatura, do cinema, da tevê, do Youtube. Um videozinho mambembe de quinze segundos, um flagrante filmado com a câmera do celular, uma bobagem com a poesia da “Dança do quadrado”; se tiver um milhão de acessos e a minha assinatura, já está valendo – valendo, quem sabe, uma visitinha ao programa do Jô, um convite para o sofá da Hebe!...
Sonhos... deixemos eles de lado. Porque o assunto aqui são os medos. Meu medo cotidianíssimo dos livros mal escritos, dos alunos mal-educados, do juiz que vai apitar o próximo jogo do Vasco, do metrô abarrotado e irrespirável na hora do rush. Claro, tenho também aqueles medos mais “coletivos”, compartilhados com boa parte da humanidade: o medo dos políticos que guardam dinheiro na cueca, dos homens-bomba que ameaçam a paz do planeta, das catástrofes provocadas pelo aquecimento global, dos figurinos da Lady Gaga.
Mas verdade seja dita: nenhum desses medos é tão forte quanto o horror (o medo ao quadrado) que tenho das lagartixas que moram no quintal aqui de casa. Só de pensar naquelas criaturinhas frias e rastejantes – saindo de seus covis no cair da noite – já sobe aquele arrepio!...