30 de nov. de 2009

Para quem acredita em vampiros

Não sou e nunca fui (embora não possa prometer que nunca serei) uma crepusculete, para usar a expressão do crítico Pablo Villaça. Ao contrário do que aconteceu com a saga do bruxinho de J. K. Rowling, integralmente lida e mastigada, vi os filmes crepusculares sem jamais ter me aproximado de um só volume da tetralogia de Stephenie Meyer. Medo de não gostar? qual nada: medo de gostar demais, de ser novamente absorvida por um universo do qual seria doloroso me despedir. Doloroso por motivos diferentes – que merecem parágrafo.
Enquanto o feitiço de Harry mora na criação de um mundo paralelo que existe de se pegar – lá fora, longe da gente –, o de Crepúsculo está “aqui mesmo”, como diria o ET de Spielberg, com o dedinho apontando para a cabeça. Crepúsculo e suas sequências têm o mesmo veneno de um Romeu e Julieta ou um Werther (guardadíssimas as devidas proporções literárias, é claro, já que ainda estou sã): oferecem não a fantasia, mas a projeção. Não uma simples brincadeira, e sim uma alternativa. Uma edição revista e ampliada de nós mesmos. Todos sabemos, por exemplo, que é impossível jogar quadribol ou voar em hipogrifos, e convivemos com isso perfeitamente. Salvo em caso de psicose, temos anticorpos naturais contra aquilo que nunca poderíamos ser. Mas nada nos defende daquilo que talvez pudéssemos ser. Nada nos defende do que pega a vida-nossa-de-cada-dia e a reproduz de maneira visceral, inebriante, hiperbólica. Em termos de amor, principalmente. Quem resiste ao desespero do pobre Werther ou dos amantes de Verona, essa urgência que aparentemente os isenta de qualquer outro laço, desejo, prioridade ou obrigação? essa fúria que lhes dá uma suposta carta branca para ignorar todos os raciocínios, um álibi para todos os impulsos, uma libertação de todas as escolhas? Infelizmente para nós, não queremos o amor propriamente dito: queremos um greencard, um visto permanente para a loucura, uma desculpa para a inconsciência. Soa melhor ser “obrigada” a enfrentar um clã de vampiros do que ter de estudar para a prova de Geografia.
Ok, Edward Cullen é um vampiro, o que teoricamente também joga a saga crepuscular para o domínio do fantástico. Mas o fato de Edward não ser humano é um mero detalhe: sua “vida” é a nossa vida, seu quintal é o nosso quintal. As questões de Harry Potter se resolvem em sua própria esfera, sem quase qualquer contato com o mundo trouxa – jedi moderno de uma galáxia muito distante. É um ícone sim, mas filosófico, como Hércules, Neo, Kal-El ou Luke Skywalker. Edward, porém, é um ícone de nosso mundo infinitamente particular, a remasterização do herói amoroso, o príncipe apaixonado que as mocinhas já teriam vergonha de sonhar na forma de um Montéquio, mas que desejam no corpo de um Cullen. Harry é a recriação de um mito; Edward é a atualização de um sonho. E é por isso que tenho fugido tanto de seus perigosos dentinhos.
Ao mesmo tempo, assistir a Lua nova no cinema traz a feliz constatação que o Fábio mencionou dois textos atrás: em um mundo acostumado a descrer de tudo, existe esperança em gerações suficientemente inocentes (no melhor sentido do termo) para suspirar pelo cavalheirismo à moda antiga, pela incondicionalidade do amor e até por – spoiler que provavelmente não spoilerá ninguém – um pedido de casamento. Para equilibrar a balança da autodestruição romântica, nada como sua nobreza mais encantadora – o que realmente me deixa, oitocentista tardia que sou, a um passo de ser transformada.

4 comentários:

@marcosdevon disse...

Sua argumentação usada para não ser uma 'crepusculete' (hsauhsauhaha,eu ri) são muito boas.
E tipo, eu não gosto da saga crepusculo. A história olhada de lado ROMANCE é até bonita, mas eu sou do tipo que gosta de Dracula e tals, e ca entre o mundo todo, Stephenie Meyer estragou a historia. rs

Bjs, e aguardoa sua visita também. ^^

Unknown disse...

ele mais parece o melhor amigo gay dela do que um cara que quer namorar e fazer sexo com ela! Por isso que as garotas gostam dessa porcaria, pois acreditam que um dia encontraram um cara que nem ele!

Moreira disse...

Eu naum era fã de crepusculo...até
ver o primeiro filme.
http://anotatudo.blogspot.com/

Suzy disse...

Adorei o texto . Parabéns
VISITA : http://codinomefilosofico.blogspot.com/